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AVALIAÇÃO DOS CUSTOS REFERENTES AO REPROCESSAMENTO DOS CAMPOS CIRÚRGICOS SIMPLES FEITOS DE 100% DE ALGODÃO E AOS CAMPOS DESCARTÁVEIS (NÃO-TECIDO)

 

 

Tatiana Mizusaki

João Francisco Possari

Celina Campos Araújo

 

 

Resumo – Esta pesquisa foi realizada no Centro Cirúrgico do Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo e teve, como objetivo, avaliar a importância dos custos referentes ao reprocessamento dos campos cirúrgicos simples, feitos de tecido 100% de algodão cru, e os da aquisição dos campos descartáveis. Para os cálculos, coletamos informações relativas às despesas de mão-de-obra, materiais, equipamentos, extravio de campos e serviços terceirizados que participam do custo final do reprocessamento de 24 pacotes de LAP. A quantia gasta para reprocessar um pacote de LAP foi de R$ 17,60, ao passo que o preço de aquisição de um pacote de campos descartáveis foi de R$ 56,00. Para compararmos os dois valores, partimos da premissa de que o hospital utilizava um pacote de LAP (seis campos simples e um duplo) em cada cirurgia e quatro porções de LAPs a cada 24 horas, levando em conta um movimento cirúrgico de 70 operações diárias. Assim, chegamos a um custo total de R$ 4.928,00 para campos reprocessados e de R$ 3.920,00 para os de uso único. Portanto, somente em um dia cirúrgico, o hospital tinha um gasto adicional de R$ 1.008,00 ao utilizar o campo cirúrgico reprocessado, montante suficiente para adquirir mais 18 pacotes dos descartáveis. Após essa comparação de preços, verificamos que a substituição dos campos de tecido 100% de algodão pelos descartáveis é viável do ponto de vista financeiro. Além disso, a aquisição dos de uso único elimina algumas desvantagens e gastos que acompanham os de tecido: tais materiais proporcionam a garantia de barreira antimicrobiana por serem impermeáveis, estão livres de furos e/ou cerzidos, não requerem controle do número de reprocessamentos e minimizam a eliminação de fiapos.

Palavra-Chave – custos; campos cirúrgicos; reprocessamento; descartáveis.

Introdução – Os custos passaram a ser elementos estratégicos para as organizações de saúde, uma vez que estas contam com recursos escassos e gastos cada vez maiores devido à alta complexidade dos procedimentos, ao nível de tecnologia elevado e à demanda por qualidade na prestação do serviço.

A compreensão do comportamento dos custos é extremamente interessante para os gerentes de Enfermagem na tomada de decisões e no planejamento das atividades operacionais. Assim, torna-se possível avaliar a viabilidade dos serviços, as alternativas de investimentos, a facilidade de negociação e a repercussão de modificações no volume de atendimentos.

As informações referentes aos custos como insumo fundamental de gerenciamento representam um movimento gerencial na atualidade, que deve ser compreendido além do enfoque técnico ou econômico, ou seja, como uma questão comportamental. Dessa forma, estaremos desenvolvendo uma questão competente e compatível com a missão de cuidar da saúde da população.

Nesse sentido, o custo é uma ferramenta gerencial para os enfermeiros, pois atende às finalidades de controle, fornece suporte para analisar a viabilidade de projetos e ampara o processo decisório em relação à alocação de recursos e à redução de despesas. A administração desses custos hospitalares indicará o sucesso da organização.

No presente estudo esse tema foi abordado em relação ao reprocessamento de campos cirúrgicos simples, feitos de 100% de algodão, em um hospital de ensino de grande porte da cidade de São Paulo, com o propósito de verificar os custos envolvidos na reutilização de tais materiais.

A NBR 12.546/91 define tecido como uma estrutura produzida pelo entrelaçamento de um conjunto de fios de urdume (comprimento) e de outro conjunto de fios de trama (largura), formando um ângulo de 90° ou próximo a tal valor.

Stanewick e Kogut referem que o primeiro tecido utilizado em sala cirúrgica na década de 50 foi a musselina, feita de 100% de algodão, com 140 fios por polegada quadrada e espaço entre os fios de 140 mm. Os autores citam que a década de 60 assistiu à introdução de um tecido misto, composto de 50% de poliéster e 50% de algodão, contendo 180 fios por polegada quadrada e uma distância entre os fios de 75 mm, e que, na década de 70, surgiu um campo confeccionado com 100% de algodão, com 280 fios por polegada quadrada.

Observamos que, com o passar das décadas, ocorreu aumento do número de fios do tecido e diminuição do espaço entre eles com o objetivo de obter uma barreira microbiana. Entretanto, o material com grande quantidade de fios dificultava e, em alguns casos, impedia a passagem de vapor, prejudicando a esterilização.

Os mesmos autores ainda mencionam que, na década de 80, os fabricantes lançaram um tecido feito de 50% de poliéster e 50% de algodão, com 175 fios por polegada quadrada e espaço entre os fios com menos de 1 mm como barreira microbiana, principalmente quando tratado com finalização à base de fluorcarbono.

Os campos cirúrgicos de tecido podem ser reutilizados por meio de um processo que inclui lavagem, preparo, embalagem, rotulagem,esterilização e controle de qualidade. No entanto, devem manter uma barreira de proteção através dos múltiplos processamentos. Com várias lavagens, as fibras aumentam de tamanho e, com a secagem e a esterilização, elas encolhem, o que as torna mais frágeis e facilita seu desprendimento. É preciso, portanto, estabelecer um sistema para monitorar, controlar e determinar a vida útil doa aventais e campos cirúrgicos reutilizáveis.

O futuro em relação ao uso dos convencionais campos e aventais cirúrgicos de tecido de algodão ou de algodão e poliéster é incerto. Tais materiais, afinal, não se encontram em conformidade com as exigências do novo padrão europeu porque não são resistentes à penetração de microrganismos através de líquidos e à liberação de partículas de tecido.

Também na década de 80 foram desenvolvidos campos de uso único, geralmente fabricados com não-tecidos, às vezes associados a outros materiais (filmes plásticos) ou a tratamentos químicos para oferecer maior resistência à penetração de líquidos. Esses produtos derivam de substancias naturais (polpa de madeira e algodão) ou sintéticas (poliéster, polipropileno e polietileno).

É importante ressaltar que os campos cirúrgicos de algodão – reutilizáveis – somente atuam como barreira afetiva quando estão secos e não cerzidos.

Define-se não-tecido como uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu, manta de fibras ou filamentos, os quais são orientados de forma direcionada ou ao acaso e consolidados por processo mecânico (fricção) e/ou químico (adesão) e/ou térmico (coesão) ou, ainda, por combinações dessas opções.

Existem várias tecnologias para fabricar um não-tecido. O material aqui abordado é o SMS, com três camadas de polipropileno (100%), duas das quais externas (S-Spunbonded) e feitas de fibras longas e contínuas, o que confere ao campo resistência e maleabilidade, e a do meio composta de uma densa camada de microfibras (M-Meltblown), que age como barreira bacteriana e ainda repele líquidos e fluidos corpóreos, com grau de permeabilidade e resistência adequado.

Quanto à gramatura, encontramos no mercado os tipos leve (gramatura inferior a 25 g/m²), médio (gramatura entre 26 e 70 g/m²), pesado (gramatura entre 71 e 150 g/m²) e muito pesado (gramatura acima de 150 g/m²). Para o campo cirúrgico normalmente se utiliza uma gramatura de 60 g/m².

Um inconveniente do uso desses campos descartáveis é a geração de resíduos, que deve ser minimizada para se adequar à regulamentação local. Em contrapartida, os não-tecidos possuem algumas vantagens em relação ao tecido: proporcionam uma afetiva barreira bacteriana, por serem repelentes; resistem às condições físicas do processo de esterilização, tais como drásticas mudanças de temperaturas e de níveis de umidade e pressão; e são porosos, permitindo o fluxo de ar, vapor e óxido de etileno, e mais uniformes e consistentes em sua formação do que os tecidos, que sofrem uma deterioração progressiva. Os campos de não-tecido têm ainda uma composição que não varia e oferecem segurança, pois são livres de furos e não contêm componentes tóxicos; além disso, apresentam confiabilidade, visto que garantem barreira se não houver danos à embalagem, e baixo custo-disponibilidade, uma vez que simplificam o controle de estoque e eliminam os gastos com lavagem e inspeção.

Um estudo realizado por Moylan e Kennedy no Hospital Geral da Virgínia, nos EUA, concluiu que, além de ser a melhor barreira contra infecções, o campo de uso único pode se mostrar uma opção mais econômica que o reutilizável. Ainda em 1980, em alguns hospitais americanos, como esse, do Estado de Virgínia, foram introduzidos campos cirúrgicos de uso único com o intuito de reduzir as taxas de infecção. Os autores, então, fizeram inicialmente um levantamento para comparar o valor do material de não-tecido com o de algodão reprocessado. No final, concluíram que o uso do campo de tecido era mais viável economicamente, porém não consideraram os custos indiretos, ou seja, de processamento, armazenamento, mão-de-obra e tempo, assim como as despesas hospitalares referentes ao tratamento de possíveis infecções pós-operatórias.

No Brasil, os campos de não-tecido começaram a ser utilizados a partir da década de 90, entretanto não encontramos literatura brasileira sobre a pesquisa do custo do reprocessamento de campos feitos de 100% de algodão e do valor da aquisição dos materiais de uso único. Até o presente momento, um número reduzido de hospitais brasileiros aderiu à utilização quase que totalmente do exemplar de uso único, mas é possível perceber que esse processo de substituição dos reutilizáveis pelos descartáveis ocorre de forma lenta, fato observado igualmente na instituição onde realizamos este estudo.

Para Rodrigues, os campos duplos de tecidos 100% de algodão, com gramatura de 210 g/m², utilizados para a embalagem de materiais médico-hospitalares, conforme padronização da ABNT, podem ser lavados e reprocessados até 65 vezes com garantia de barreira microbiana. No estudo realizado por Burgatti, Possari, Moderno, os campos cirúrgicos simples, confeccionados com 100% de algodão, mantiveram a efetividade de barreira microbiana por até cinco reprocessamentos.

A finalidade deste trabalho é puramente financeira, ou seja, trata-se de uma iniciativa realizada por meio do levantamento e da análise dos custos envolvidos no reprocessamento dos campos de 100% algodão e na aquisição dos de uso único.

Objetivos

• Calcular o custo do reprocessamento dos campos cirúrgicos simples, feitos de 100% de algodão;
• Obter o valor da aquisição dos campos cirúrgicos simples de uso único (não-tecido);
• Comparar o custo do reprocessamento dos campos cirúrgicos simples com o da aquisição de campos de não-tecido.

Metodologia

Tipo de Pesquisa:
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com abordagem quantitativa.

Local do Estudo
O presente estudo foi feito durante o período de maio de 2002 a janeiro de 2003 no Centro Cirúrgico (CC) e no meio de Material e Esterilização (CME) de um hospital geral de grande porte, localizado na cidade de São Paulo. A instituição, também voltada ao ensino, é governamental e possui aproximadamente 900 leitos, prestando assistência a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), de convênios e particulares.

O CC é constituído por três grandes seções: Recuperação Pós-Anestésica (RPA), com 23 leitos, dotada de infra-estrutura para o atendimento de pacientes submetidos a procedimentos anestésico-cirurgicos, além de Blocos Operatórios (BOs) e do CME, que prepara, esteriliza, armazena e distribui materiais para cada BO e para a RPA, assim como para as Unidades de Internação, o Ambulatório e o Pronto-Socorro.

O Centro Cirúrgico do hospital possui 33 Salas de Operação (SOs), distribuídas em três BOs. O BO I tem dez Sos, quatro das quais destinadas para cirurgias de urgências e emergências das Unidades de Internação e do Pronto-Socorro e seis para cirurgias obstétricas, com funcionamento ininterrupto. Nesse bloco são realizadas, em média, 350 operações de urgência / emergência e 250 procedimentos obstétricos por mês.

Já os BOs II e III contam, cada qual, com dez Sos para cirurgias eletivas e funcionam das 7 às 19 horas. Nesses locais, mil cirurgias mensais são feitas em média, principalmente de aparelho digestivo, cabeça e pescoço, geral e plástica e queimaduras, além das urológicas, torácicas, vasculares, otorrinolaringológicas e oftalmológicas.

O BO IV, com três Sos para procedimentos anestésico-cirúrgicos eletivos, também tem horário de funcionamento das 7 às 19 horas. Suas salas possuem dimensões maiores do que as demais e são providas de infra-estrutura para o atendimento de cirurgias de vias biliares, fígado e neurocirurgias. Nesse bloco ocorrem cem operações a cada mês, em média.

O setor de expurgo, no CME, recebe os artigos utilizados nos procedimentos assistenciais pelas Unidades de Internação, pelo Pronto Atendimento, por pacientes externos e pelo CC. Nessa área, os objetos são limpos, secos, conferidos, separados conforme o tipo (instrumental, aço inoxidável, extensões de borracha, peças de equipamentos e materiais específicos) e acondicionados em diferentes tipos de embalagens, de acordo com a padronização e com os métodos de esterilização a que serão submetidos.

Os pacotes de LAP, constituídos de seis campos simples de tecido 100% de algodão e envoltos por um campo duplo, também de tecido 100% de algodão, são preparados na própria lavanderia terceirizada, assim como as demais roupas. Depois disso, percorrem o hospital em carrinhos, denominados “gaiolas”. Para proteger os pacotes de roupa, as gaiolas, que são feitas de ferro galvanizado e providas de três prateleiras, cada qual com capacidade para 15 LAPs, recebem um filme plástico transparente. Assim que chegam à rouparia, os profissionais de lá as pesam e registram seus dados em planilhas para o controle de quantidade de roupa lavada. Vale salientar que o contrato lavagem de roupa estabelece que o hospital deve pagar a lavanderia por quilograma de peças limpas.

Após a esterilização, os artigos são encaminhados para o setor de armazenamento e distribuição. Ali, ficam guardados em armários fechados e identificados para que o funcionário possa suprir de forma imediata e qualificada as requisições das unidades consumidoras. Além de armários, existem cestos aramados para dispor os itens esterilizados.

No contrato do hospital com a lavanderia terceirizada, destacam-se os seguintes serviços: retirada da roupa e entrega no hospital, além de lavagem e dobradura das peças (pacotes de LAPs, aventais, compressas, lençóis, cobertores, camisolas, fronhas e cueiros, entre outros). No documento, consta ainda a reposição de roupas em caso de extravio e avaria, desde que constatado que o caso tenha ocorrido na própria lavanderia.

Há seis autoclaves no CME da instituição, duas para esterilização rápida (flash) e quatro para esterilizar artigos produzidos. Diariamente, das 7 às 22 horas, realizam-se sete ciclos de esterilização em cada máquina. A partir do horário de encerramento das atividades, as caldeiras são desligadas. As autoclaves foram adquiridas em 1987, época da inauguração do CC no 9° andar do prédio, e reformadas em 1997, quando incorporaram o sistema automático de controle de esterilização. Cada autoclave, no presente momento, vale em torno de R$ 50.000,00. O hospital mantém um contrato de manutenção com uma empresa terceirizada, no valor de R$ 3.683,00 mensais, o qual abrange suas autoclaves – seis do CME e as demais alocadas em outras áreas do hospital, como a Divisão de Nutrição e Dietética, o Centro de Cirurgia Ambulatorial e a Divisão de Farmácia. Mensalmente são gastos R$ 300,00 por autoclave para manutenção corretiva, dinheiro usado em peças como purgador, reparo de válvula e de bomba de vácuo, pressóstato, guarnição da porta e timer, entre outras.

A equipe de Enfermagem nessa unidade é composta de enfermeiros e de auxiliares de Enfermagem. As atividades são organizadas segundo o fluxo contínuo de objetos nas diversas áreas do CME, tendo uma distribuição que varia de acordo com as funções das referidas categorias profissionais pelas diversas áreas do local.

O processo de trabalho é ininterrupto nas 24 horas de cada dia, exceto no setor de esterilização, que funciona das 7 às 22 horas, em turnos da manhã, da tarde e da noite. A jornada semanal chega a 30 horas, com plantões de seis horas diurnas e de 12 horas noturnas.

Amostra

Para este estudo, consideramos 24 pacotes de LAPs simples, que totalizam 144 campos cirúrgicos simples, feitos de 100% de algodão, com forma quadrada e tamanho de 1,55m x 1,55m, além de 24 campos duplos de tecido 100% de algodão, também quadrados, mas com tamanho de 1,00m x 1,00m. Cada pacote de LAP tem seis campos cirúrgicos de algodão e um duplo, igualmente de tecido 100% de algodão.

O pacote de campo de uso único (não-tecido) possui quatro campos, dois dos quais de 1,50m x 1,50m e um de 2,60m x 1,50m, além de um outro, de 1,80m x 1,50m, todos eles providos de fitas adesivas hipoalergênicas e reforço absorvente.

Fonte de dados

As fontes de dados foram divididas em dois grupos:

1) Para o cálculo do pacote de campo cirúrgico simples, feito de 100% de algodão – pacote de LAP:

• Divisão de Material (DM) – preço de aquisição dos campos e insumos (fita-crepe, fita adesiva, indicador químico e biológico, etiqueta de identificação, gorro e máscara) utilizados no reprocessamento dos campos de tecido 100% de algodão;
• Divisão de Construção e Conservação (DCC) – preço do quilograma de vapor produzido e da energia elétrica para a produção do vapor e para o funcionamento da autoclave;
• Divisão de Engenharia Hospitalar (DEH) – preço da água e do esgoto;
• Departamento de Recursos Humanos (DRH) – salários, benefícios e encargos sociais;
• Divisão de Administração (DA) – custo do quilograma de roupa lavada em lavanderia terceirizada;
• Engenharia de Manutenção (EM) – contrato de manutenção das autoclaves.

2) Para o cálculo do pacote de campo de uso único (não-tecido):

• Divisão de Material (DM) – preço de aquisição dos pacotes de campos de não-tecidos.

Coleta de dados

A diretoria do Serviço de Enfermagem do CC encaminhou memorando para as divisões envolvidas – DM, DCC, DEH, DRH e DA – e para a Engenharia de Manutenção com o intuito de solicitar as informações necessárias para a execução da pesquisa. Assim, os dados foram coletas por meio dos seguintes levantamentos:

• número de pessoal necessário para o recebimento e o acondicionamento dos pacotes no carrinho da autoclave, para a esterilização, para a estocagem e para a distribuição dos pacotes de LAP;
• salários, encargos sociais e benefícios dos profissionais envolvidos no reprocessamento de 24 pacotes de LAP;
• quantidade e custo dos insumos utilizados no preparo dos LAPs (campos, tinta para carimbo e outros) e dos materiais consumidos no processo de esterilização (água, vapor e energia elétrica);
• custo do quilograma de roupa lavada;
• preço do pacote de LAP com quatro campos descartáveis de uso único.

O tempo gasto no reprocessamento dos campos cirúrgicos de tecido 100% de algodão foi registrado com cinco observações consecutivas de três diferentes funcionários. Para o registro desse período, utilizamos um cronômetro digital da marca Casio.

Não computamos os custos inerentes aos dois tipos de campos, como é caso do gasto com a limpeza da unidade, que pode ocorrer no CME e também no almoxarifado onde são armazenados os artigos descartáveis, e do valor da energia elétrica despendida para a iluminação do ambiente e para o funcionamento do ar-condicionado, uma vez que eles são praticamente iguais nas duas áreas. Também não foram computados os custos para transportar a roupa suja e o lixo porque se trata de atividades executadas pelos mesmos profissionais.

Procedimentos

Trajetória do campo cirúrgico simples, feito de 100% de algodão

A trajetória da roupa utilizada no CC inicia-se na rouparia do hospital, onde chega após passar pela lavanderia terceirizada, na qual todas as peças são preparadas em pacotes e acondicionadas em gaiolas especificas, com capacidade para 45 LAPs. Da rouparia, portanto, os pacotes seguem para o CME, são colocados em balcões da área de preparo de roupa, examinados quanto ao acabamento e, a seguir, esterilizados. Cada atividade descrita abaixo foi observada 15 vezes e teve seu tempo medido por meio de um cronômetro digital, do começo ao fim:

• transporte dos LAPs em gaiolas, da rouparia para o CME, por um elevador exclusivo, próximo à rouparia;
• descarregamento das gaiolas e acondicionamento dos pacotes de campos nos balcões do setor de preparo de roupa;
• carregamento do carrinho da autoclave no mesmo setor;
• transporte do carrinho para a autoclave;
• Colocação do carrinho no interior da autoclave;
• Fechamento da porta das autoclaves e registro do tipo de artigo, do horário e do nome do funcionário responsável pela atividade;
• Inicio do processo de esterilização;
• Abertura da porta da autoclave, aeração e secagem;
• Anotação do término da atividade pelo funcionário;
• Transporte do carrinho da autoclave para a sala de armazenamento;
• Acondicionamento dos pacotes de LAP esterilizados nos balcões do setor de armazenamento e distribuição.

Trajetória do pacote de campo cirúrgico de uso único (não-tecido)

O caminho percorrido pelos materiais descartáveis é bem mais reduzido:

• transporte dos campos cirúrgicos de uso único do almoxarifado do hospital para o almoxarifado do CC;
• armazenamento dos pacotes em prateleiras para pronto uso.

Não consideramos os custos para transportar os LAPs de tecidos do CME e os de não-tecido do almoxarifado do Centro Cirúrgico para o Bloco Operatório porque tais atividades podem ser executadas simultaneamente pelo mesmo profissional.

Resultados

Os resultados estão apresentados conforme os passos metodológicos da pesquisa.

1) Tempo médio para o reprocessamento de 24 pacotes de LAP O tempo médio para a execução de cada atividade do processo de esterilização , expresso em segundos está discriminado a seguir.

Recebimento da lavanderia e encaminhamento dos pacotes ao CME

1. Receber, pesar a gaiola com 45 LAPs e transportá-la para o CME...............1.590 segundos
2. Receber, pesar a gaiola com 24 LAPs e transportá-la para o CME..................848 segundos
3. Descarregar os 24 pacotes de LAP da gaiola e acondicioná-los nos
balcões do setor de preparo de roupa...............................................................409,6 segundos
Tempo total gasto no processo.......................................................................1.257,6 segundos

Portanto, o tempo gasto para receber, pesar, encaminhar e descarregar 24 LAPs gira em torno de 21,02 minutos.

Processo de esterilização dos LAPs

1. Carregar o carrinho da autoclave no setor de preparo de roupa.........................................99 segundos
2. Transportar o carrinho para a autoclave............................................................................16 segundos
3. Colocar o carrinho no interior da autoclave.......................................................................17 segundos
4. Fechar a autoclave e registrar ciclo, tipo de artigo, horário e nome do funcionário
responsável pela atividade....................................................................................................39 segundos
5. Registrar o fim do ciclo de esterilização........................................................................2.864 segundos
6. Abrir a autoclave..............................................................................................................21 segundos
7. Secar os pacotes de LAP............................................................................................1.603 segundos
8. Retirar os LAPs da autoclave.............................................................................................8 segundos
9. Anotar o término da atividade............................................................................................9 segundos
10. Transportar o carrinho da a autoclave para o setor de armazenamento de artigos............23 segundos
11. Identificar e acondicionar os pacotes de LAP esterilizados nos balcões do setor 
de armazenamento.............................................................................................................102 segundos
12. Transportar o carrinho para o setor de preparo de roupa................................................30 segundos
Tempo gasto no processo......................................................................................... .....4.381 segundos

Isso significa que o tempo gasto para carregar o carrinho, esterilizar e armazenar os pacotes de LAP toma cerca de 80,51 minutos.

2) Custo da mão-de-obra para o reprocessamento de 24 pacotes de LAPs simples de tecido 100% de algodão

Apuração das horas efetivas de trabalho As premissas abaixo indicam as horas efetivas dos funcionários, conforme carga horária semanal.

 

Premissas para quem trabalha:

 

30 horas semanais40 horas semanais

• 6 horas por dia/turno• 8 horas por dia/turno

• 5 dias por semana• 5 dias por semana

• 12 meses por ano• 12 meses ao ano

2.190,0 horas no total/ano2.920,0 horas no total/ano

180,0 horas de férias/ano240,0 horas de férias/ano

648,0 horas de folga/ano864,0 horas de folga/ano

1.362,0 horas efetivas/ano1.816,0 horas efetivas/ano

113,5 horas efetivas/mês151,3 horas efetivas/mês

Custo total por hora trabalhada

Considerando a remuneração mensal – o mês de base foi julho de 2002 -, os encargos sociais, o auxílio-alimentação e o vale-transporte, chegamos aos seguintes custos totais/hora de cada funcionário envolvido no reprocessamento de campos:

Auxiliar de Enfermagem................................... R$ 10,15
Auxiliar de Serviços......................................... R$ 8,16*
* Jornada de 40 horas/semana; os demais funcionários cumprem jornada de 30 horas/semana.

Detalhamento de custo da mão-de-obra

Para receber, pesar, transportar e descarregar 24 LAPs:

• Auxiliar de serviços (21,02 minutos) Custo por hora...................................................... R$ 8,16
Custo para reprocessar 24 pacotes de LAPs simples de tecido 100% de algodão............ R$ 2,85

Para carregar o carrinho de autoclave com 24 pacotes de LAP, esterilizar e armazenar o material:

• Auxiliar de Enfermagem (80,51 minutos) Custo por h..................................................R$ 10,15
Custo para reprocessar 24 pacotes de LAPs simples de tecido 100% de algodão......... R$ 13,60
Custo total da mão-de-obra para o reprocessamento de 24 pacotes de LAP................ R$ 16,45

3) Materiais de consumo/insumos

• Caneta esferográfica (1 unidade)................................................................................ R$ 0,14
• Campo feito de 100% de algodão cru, com 1,55m x 1,55m (preço unitário de
R$ 5,58); como se trata de 24 LAPs, ou seja, com 166 campos simples, o custo 
total é de R$ 926,28. Mas esse valor foi dividido por cinco, que corresponde ao 
número máximo de vezes que o campo cirúrgico deve ser reprocessado sem 
perder a função de barreira antimicrobiana................................................................... R$ 185,26
• Campo duplo, feito de 100% de algodão cru, com 1,00m x 1,00m (preço unitário 
de R$ 2,80); como se trata de 24 LAPs, com 24 campos duplos, o custo total é 
de R$ 67,20. Mas esse valor foi dividido por 65, número máximo de vezes que o 
campo duplo pode ser reprocessado sem perder sua efetividade como barreira antimicrobiana .............................................................................................................R$ 0,96
• Carimbo (1 unidade)................................................................................................. R$ 22,00
• Fita adesiva com 3.060cm (preço unitário de R$ 0,39); 17 cm/pacote....................... R$ 9,36
• Gorro/touca (1 unidade)........................................................................................... R$ 0,08
• Indicador químico (preço unitário de R$ 0,43) para 24 pacotes................................. R$ 10,32
• Luva de amianto (1 unidade)......................................................................................R$ 22,00
• Máscara cirúrgica (1 unidade)................................................................................... R$ 0,27
• Protetor de calçado (2 unidades)............................................................................... R$ 0,24
• Teste bacteriológico (preço unitário de R$ 0,16); são utilizadas três
unidades, uma na frente da autoclave, uma no meio e a outra no fundo...........................R$ 0,48
• Fita teste para autoclave; 4 cm/pacote (R$ 0,001 x 24).............................................. R$ 0,024
• Tinta para carimbo com 10 ml.................................................................................... R$ 9,73
• Etiqueta para impressão com 2,7cm x 1,5cm; 1 unidade/pacote (R$ 0,303 x 24)........ R$ 7,27
Todo custo com material para o reprocessamento de 24 pacotes de LAP.....................R$ 267,77

4) Equipamentos

Autoclave com gerador de vapor

No processo de esterilização, a autoclave permanece ligada durante 60 minutos, em média.

Consumo de água

Na produção de vapor...................... 20 litros
No ciclo (6 litros/minuto):
12 minutos de secagem..................... 72 litros
3 minutos de vácuo inicial.................. 18 litros
Consumo em 60 minutos................... 110 litros
Água/esgoto (1 m³ - SABESP)...........R$ 10,33
Custo de água por ciclo......................R$ 1,13

Energia elétrica

Produção de vapor
Autoclave nominal......................................................................................................... 27 Kw
Gasto do gerador de vapor em uma hora, considerando 60% do tempo ligado................162,2 Kwh
Tarifa para distribuição trifásica......................................................................................R$ 0,32896/Kwh
Gasto em uma hora, no valor de R$ 0,24672 + ICMS de 25%......................................R$ 5,33

Produção de vácuo
Bomba de vácuo de 2,2 Kw, funcionando 20 minutos/hora (1/3 x 2,2 x 0,32896).....R$ 0,24/hora
Custo de energia elétrica por ciclo............................................................................R$ 5,57
Custo total de energia elétrica por ciclo.....................................................................R$ 6,70

Manutenção preventiva das autoclaves

Contrato mensal de manutenção para 11 autoclaves.............. R$ 3.683,00
Valor para cada autoclaves................................................... R$ 334,82
Quantidade de ciclos diários................................................. 7
Quantidade mensal de ciclos................................................. 210
Custo por ciclo..................................................................... R$ 1,59

Manutenção corretiva da autoclave

Media mensal/autoclave........................................................ R$ 300,00
Produção diária por autoclave.............................................. 7 ciclos
Custo por ciclo..................................................................... R$ 1,42

Depreciação

Custo de aquisição........................................................................................... R$ 50.000,00
Vida útil da autoclave....................................................................................... 10 anos
Depreciação anual............................................................................................ R$ 5.000,00
Depreciação mensal......................................................................................... R$ 416,66
Depreciação por ciclo...................................................................................... R$ 1,98
Custo total com equipamento para o reprocessamento de 24 LAPs.................. R$ 12,82

5) Custo do extravio de campos de tecido 100% de algodão

Extravio de campos cirúrgicos: em média 14% dos 166 campos do início do 
trabalho; assim, acrescentamos 23 campos com custo unitário de R$ 1,11........R$ 25,53
Extravio de campos de embalagem: em média 14% dos 24 campos 
do início do trabalho; dessa forma, é preciso acrescentar 4 campos 
com custo unitário de R$ 0,04......................................................................... R$ 0,16
Custo total com o extravio de campos cirúrgicos e de embalagens 
para o reprocessamento de 24 LAPs.............................................................. R$ 25,69

6) Custo do processo de lavagem dos campos

Valor pago pelo hospital à lavanderia por quilo de roupa limpa........................ R$ 1,36
Peso do pacote.............................................................................................. 3.064 Kg
Custo de lavanderia para 24 pacotes de LAPs simples
(preço unitário de R$ 4,16)............................................................................ R$ 99,84

Resumo do custo total para o reprocessamento de 24 pacotes de LAP

Mão-de-obra................................................................................................R$ 16,45
Materiais de consumo....................................................................................R$ 267,77
Equipamentos................................................................................................R$ 12,82
Extravio de campos.......................................................................................R$ 25,69
Lavanderia....................................................................................................R$ 99,84
Custo total para o reprocessamento de 24 pacotes de LAPs 
simples de tecido 100% de algodão...............................................................R$ 422,57

Portanto, o custo para reprocessamento de um pacote de campos cirúrgicos feitos de 100% de algodão gira em torno de R$ 17,60.

7) Custo do pacote de campos cirúrgicos de uso único (não-tecido)

A DM obteve o custo dos pacotes de campos cirúrgicos com empresas que fabricam esses tipos de artigos. Os valores fornecidos foram, em média, de R$ 56,00 para um kit com quatro campos confeccionados com não-tecido SMS, dos quais dois com 1,50m x 1,50m, um com 2,60m x 1,50m e outro com 1,80m x 1,50m, todos eles providos de fitas adesivas hipoalergênicas e reforço absorvente.

 

CONCLUSÃO

Este estudo abordou a importância dos custos para uma instituição hospitalar, especificamente os referentes ao reprocessamento dos campos cirúrgicos de tecido 100% de algodão cru e à aquisição dos campos de uso único.

Na lavagem dos campos cirúrgicos simples de tecido 100% de algodão, pode haver acidentes que provocam estragos mecânicos (repuxamento de tecido, rasgões e microfuros), físico (encolhimento pelo excesso de calor) e químicos (excesso de alvejante e desinfetantes, sabões inadequados e manchas causadas por contato com roupa de cor). Tais acidentes não ocorrem nos campos de uso único.

Praticamente não existe, nos hospitais, controle da quantidade de vezes que os campos cirúrgicos simples de tecido 100% de algodão são utilizados. Eles saem de circulação, em geral, quando apresentam microfuros ou manchas que não foram removidas após sucessivas lavagens. Assim, acabam sendo usados mais de 20 vezes. O emprego contínuo do material sem controle do número de reprocessamentos põe em risco a vida do paciente, facilitando a aquisição de infecção. Afinal, o campo de tecido funciona como barreira microbiana em até, no máximo, cinco reprocessamentos. Por sua vez, os de uso único dispensam esse tipo de controle.

Partindo da premissa de que o hospital utilizava um pacote de LAP (com seis campos de tecido simples e um campo duplo) em cada cirurgia e de que realizava, em média, 70 procedimentos anestésico-círurgicos diários, entendemos que, se para uma cirurgia, um LAP era utilizado, em 70 eram consumidos 70 LAPs. Em 24 horas, portanto, o movimento de LAPs coordenado pelo CME deveria ser de 70 vezes 4, numero relativo às porções, o que equivale a um total de 280 LAPs. Entretanto, para o campo de uso único (não-tecido), seriam necessários apenas 70 pacotes de LAP. Em termos de custo, isso representa R$ 4.928,00 (R$ 17,60 x 280) para campos de tecido e R$ 3.920,00 (R$ 56,00 x 70) para os descartáveis. Assim sendo, somente em um dia cirúrgico, havia um custo adicional de R$ 1.008,00 devido ao emprego do campo reprocessado, montante suficiente para adquirir mais 18 pacotes dos materiais de uso único.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a conclusão do estudo, recomendamos, do ponto de vista financeiro, a substituição dos campos cirúrgicos de tecido 100% de algodão pelos de não-tecido, pois a aquisição destes últimos elimina algumas desvantagens e gastos que acompanham os reprocessados. Além disso, os descartáveis também proporcionam a garantia de barreira antimicrobiana por serem impermeáveis e estarem livres de furos, microfuros ou cerzidos. Sem contar que não requerem controle do número de reprocessamentos e minimizam a eliminação de fiapos, reduzindo, conseqüentemente, o risco de infecção pós-operatória, entre outras vantagens.

NOTA FINAL

Devido o não-tecido SMS ser o mais completo invólucro para esterilização, a sua utilização cresceu muito nos últimos anos, por isso hoje é considerado o custo benefício mais acessível para os hospitais.

Exemplo: 
Papel Crepado 0,40 x 0,40..........R$ 0,34
Grau Cirurgico 0,40 x 0,40..........R$ 0,38
Manta de SMS 0,40 x 0,40.........R$ 0,22

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